IX - A Loira do banheiro

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Rúbia e a Loira do banheiro
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Era final do 2º semestre daquele ano chato, 8ª série do primeiro grau, ou ginásio, ou ensino fundamental, ou o que você preferir. Rúbia havia “fechado” todas as notas em todas as matérias, não agüentava mais assistir aulas. Então, após o término do intervalo daquele dia, resolveu ficar umas duas horas escondida no banheiro, “matando” aula.
Convidou algumas colegas para fazê-la companhia, mas as “pelegas” não queriam perder a aula de matemática e disseram que iriam para a sala.
- Vamos, suas chatas! - insistiu Rúbia.
- Ah, não! Ainda não “fechei” em matemática e acho que você não deveria ficar aí sozinha no banheiro. - disse Dominique.
- Tá bom, Dominique, tá bom! - reclamou e foi sozinha, então, levando um hentai para ler.
A dona Elenice, inspetora de alunos, costumava vistoriar todos os banheiros da escola para verificar se não havia ficado ninguém fora das salas. Rúbia sabia disso, entrou em um dos banheiros, trancou a porta, subiu no vaso sanitário e ficou aguardando a inspetora entrar. Tomou cuidado para não pisar em sua saia azul de pregas e para que seus sapatos boneca pretos ficassem firmes sobre o vaso para não escorregar e causar um acidente grave. Dona Elenice não era muito rigorosa, olhava por baixo das portas dos banheiros, mas se não visse pés, ia embora.
E foi o que fez...
Ao perceber que a dona Elenice foi embora, Rúbia desceu do vaso com o mesmo cuidado que subiu. Olhou para baixo para conferir a roupa, ajeitou sua saia e os dois rabos-de-cavalo, um de cada lado da cabeça. Pegou sua revistinha de cima da tampa do vaso e abriu a porta...
Rúbia quase caiu sentada em cima do vaso com o que viu, derrubou sua revistinha dentro do cesto de lixo, o coração disparou para quase 150 batimentos por minuto, os olhos se arregalaram, as pupilas se dilataram, a garganta secou, um grito tentou sair de sua boca entreaberta, mas não teve sucesso.
Uma jovem loira de cabelos longos e despenteados com, mais ou menos, 1,70m. de altura, vestida em uma longa camisola branca, com rosto deformado e algumas cicatrizes, olhos verdes e fundos, duas bolinhas de algodão nas narinas, sorria diabolicamente para Rúbia próximo à porta do banheiro.
– Maataandoo aauulaa!!! - disse a Loira, lentamente, com uma voz mórbida.
Quando Rúbia conseguiu se recuperar do susto, avançou para cima daquela figura decrépita, jogando seu braço direito em um movimento da esquerda para a direita para empurrá-la, mas sentiu que seu braço passou direto por aquele fantasma, quase caiu para frente e sentiu um forte arrepio quando seu corpo inteiro passou pelo corpo da Loira.
Deu uma rápida olhada para trás e correu em direção à porta de saída do banheiro. Quando chegou próxima à porta, a mesma fechou com tamanha violência e fazendo um estrondo tão terrível que, se Rúbia estivesse passando por ela, teria sido partida ao meio. Rúbia ficou estática durante alguns segundos diante da porta fechada, sendo interrompida por uma mão gelada que sentiu em seu ombro e a puxou para trás, jogando-a pelo ar por uns 3 metros.
Rúbia caiu de costas no chão quase batendo a cabeça contra a parede. Ficou meio tonta e sentiu que sua saia estava molhada. Sentiu raiva por achar que pudesse ser urina daquelas meninas porcas que parecem mijar em pé. Levantou-se e, com muita raiva, avançou, novamente, para cima daquela figura nojenta e gritou:
- Você é uma lenda urbana! Você não existe!
Tentou empurrá-la, agora, com as duas mãos. Mais uma vez sem sucesso. Passou direto pelo corpo da Loira, sentindo outro arrepio e, dessa vez, caindo de joelhos no chão.
Alguém, alertado pelo barulho da porta batendo com força a pouco, estava tentando abrir a porta pelo lado de fora. Rúbia, de joelhos, quis começar a chorar, de dor, de raiva, de arrependimento, quando sentiu uma mão forte segurar um de seus rabos-de-cavalo e arrastá-la para trás, sujando toda sua roupa naquele chão imundo. Nesse momento, Rúbia agarra a mão gelada da Loira tentando fazê-la largá-la, mas sem sucesso. Então percebe que está conseguindo tocar a Loira pela primeira vez. Percebe que se a Loira a estiver segurando, ela pode tocá-la.
A Loira a levanta pelo cabelo até onde seu braço estica e diz:
- Voocêê vaaii see arreepeendeer dee maataar aauulaas!
Metade da cabeça de Rúbia começa a arder. Parece que seu couro cabeludo vai se descolar da cabeça e que ela vai cair e seu rabo-de-cavalo ficar na mão da Loira. Então, com muita raiva diz:
- Me larga, sua fedorenta, você já morreu!
Neste instante, Rúbia dá um chute bem forte no busto da Loira que faz com que ela caia para trás e largue-a. Rúbia cai no chão e sente seu cotovelo esquerdo bater no chão com força.
Sem ligar muito para a dor, Rúbia levanta, corre para a porta para ajudar quem está tentando abri-la por fora. Percebe, pelas vozes, que há mais de uma pessoa lá fora. Reconhece a voz de Dominique e grita:
- Miquêêê! Me tira daqui!!!
- Meeniinaa deesoobeediieentee, maalcriiaadaa, vooltaa aaquii! – disse a Loira andando em sua direção.
- Sai fora, sua decrépita! Vai apodrecer no inferno e para de me encher o saco! O que você quer de mim? – perguntou Rúbia, cheia de pavor!
- Queeroo quee voocêê veenhaa mee faazeer coompaanhiiaa! Meeuu muundoo éé muuiitoo geelaadoo ee triistee sooziinhaa!!!
As pessoas lá fora continuam tentando arrombar a porta. Estão assustadas com os barulhos e gritos vindos de dentro do banheiro. Dominique começa a chorar sem parar e grita:
- Deve ter alguém tentando estuprá-la! Abre isso logo, pelo amor de Deus!
Dona Elenice resolve chamar o seu Arivaldo, segurança da escola, para ver se o mesmo consegue abrir a porta.
Quando chegam, ele tenta com as mãos, sacode a porta, abaixa a maçaneta tão forte que a quebra. Resolve sacar sua arma, em uma medida desesperada, e atira na direção da fechadura. Não há mais o que poderia estar mantendo a porta fechada, mesmo assim não consegue mexê-la nenhum milímetro.
Dominique está ajoelhada no chão, aos berros gritando o nome da amiga e chorando!
Rúbia começa a andar rente à pia do banheiro, de lado, tentando esquivar-se da aproximação da Loira. Esta se aproxima cada vez mais, com as mãos estendidas em sinal de apelo, faz movimento de segurar seu rosto e consegue. Rúbia está apavorada e lembra-se de que quando a Loira a está tocando ela também pode tocá-la.
A Loira vem em sua direção, fecha os olhos, entreabre a boca num movimento de beijá-la. Rúbia cerra a boca, se apavora mais ainda, arregala os olhos, comprime seu pescoço colocando sua cabeça para trás, vira seu rosto para o lado e vê as torneiras. Segura o rosto gelado da Loira e, num movimento brusco, puxa a cabeça da Loira contra uma das torneiras.
Neste momento, o seu Arivaldo, do lado de fora do banheiro toma uma grande distância da porta e corre em direção a ela para arrombá-la com o ombro.
Dentro do banheiro, a Loira está com uma das torneiras da pia dentro de seu olho direito. Ela larga Rúbia e começa a evaporar, não como uma fumaça, mas como um pó que se torna cada vez mais leve até desaparecer por completo.
Neste momento a porta se abre sozinha e Rúbia vê, passando em sua frente como um jato, o segurança Arivaldo, sem equilíbrio, que cai naquele chão molhado, todo estatelado.
Do lado de fora do banheiro estão rostos assustados e sem compreenderem nada. Dona Elenice olha feio para Rúbia e vai ao encontro de seu Arivaldo para socorrê-lo. Dominique corre em direção à amiga para abraçá-la e conferir se está bem:
- O que aconteceu aqui dentro? Por que você está assim, toda rasgada, suja? Quem estava aqui? Era um maníaco? Um estuprador? – perguntava Dominique, chorando desesperada de ver sua melhor amiga naquele estado.
- Era a Loira do banheiro, Miquê! – disse Rúbia, com ar de cansaço.
- Para de brincar, Rúbia, fala sério!
- É sério! Eu só quero ir embora, tomar um banho, trocar de roupa, descansar...
Neste momento, dona Elenice, que já havia socorrido seu Arivaldo, veio de encontro à Rúbia dizendo:
- Muito bonito, né, mocinha? Matando aula! Vai direto para a diretoria! Vamos precisar chamar sua mãe aqui para te buscar!
Rúbia sem conseguir dar muita importância para o que estava ouvindo, falou:
- Chama minha mãe, chama! Chama quem você quiser! Só não esquece de chamar um padre para exorcizar este banheiro, pois ele está mal-assombrado!
Dominique tomou as dores e gritou com a inspetora:
- Por que a senhora não vai se ferrar, dona Elenice? Não está vendo o estado em que a Rúbia se encontra? Toda suja? Rasgada? Não percebe que ela passou maus bocados aí neste banheiro e está arrependida de ter matado aula? Deixa ela ir embora! E eu também, que não tenho mais condições de assistir aula nenhuma!
- Deixe-as irem, Elenice. - Seu Arivaldo interviu.
- Humpf... – resmungou dona Elenice, - Tudo bem, vai!

E, assim, Rúbia foi embora acompanhada de sua amiga Dominique que passou a tarde inteira em sua casa.Ajudou Rúbia a tomar banho, fez um lanchinho para as duas, fez carinho nela para que cochilasse um pouco e depois ficou ouvindo a absurda estória da loira no banheiro e, claro, acreditou.

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