III - A Gruta de Santelmo...


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Rúbia na Gruta de Santelmo
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Em algum verão passado, Rúbia e Mondrongo foram a uma excursão com a turma de faculdade de Mondrongo à Gruta de Santelmo (não posso precisar, mas essa gruta fica em alguma região da Mata Atlântica). Era janeiro, mês de férias, e a festa começou já dentro do ônibus. Alguns levaram batidas caseiras de amendoim, coco, ou espanhola. Houve guerra com as fronhas dos bancos do ônibus, xavecos e, quase o tempo todo, o pessoal cantava músicas da Legião Urbana, Capital Inicial, entre outras, mas elas nunca chegavam ao fim.
Chegaram ao local. Havia uma montanha que abrigava a tal gruta e uma trilha, cheia de mato por todos os lados, que levava até a entrada da gruta. Após o desembarque e aquela espreguiçada para que todos pudessem esticar seus corpos, respiraram, alguns peidaram, apanharam suas mochilas e começaram a caminhada até a entrada da gruta. Ao entrarem, a dispersão do grupo foi inevitável; uns querendo ver isso, outros se interessando por aquilo e por aí vai.
Rúbia e Mondrongo avistaram uma estreita entrada e ficaram curiosos para saberem onde aquilo poderia levá-los. Como a luz começava a rarear, tiveram que acender suas lanternas e foram caminhando por aquele corredor estreito, escuro e um pouco úmido que parecia não terminar em lugar algum. Até que chegaram em um lugar espaçoso, mas que nem suas lanternas conseguiam clarear. Apontaram suas lanternas para baixo para verem onde iriam pisar, mas logo perceberam que não poderiam sequer dar mais um passo. Havia um enorme buraco de uns vinte metros de diâmetro, lotado até a boca com enormes ovos, uns claros e outros escuros.
Sentiam um cheiro doce no local e, também, sentiram medo. Rúbia resolveu apanhar um daqueles ovos. Não era pesado e pareceu começar a derreter em seus dedos. Nesse momento, Mondrongo resolveu apontar sua lanterna para o outro lado do enorme ninho e ficou gelado, boquiaberto e sem fala, pois sua lanterna lhe mostrou, do outro lado, um animal enorme (devia ter uns trinta metros de altura) de olhos vermelhos, de pelo branquinho, dois enormes dentes sobrando de sua boca, duas orelhas que pareciam alcançar o teto daquele local e uma expressão de poucos amigos. Mondrongo, então, disse:
- Ru-Rúbia!
- Isso tá derretendo na minha mão. – disse ela.
- E-então la-larga aí e o-olha a-aquilo! – gaguejou assustado.
Rúbia olhou despreocupada, mas ao ver aquilo, deu um pequeno pulo, soltou um grito surdo, largou o ovo e, com os olhos arregalados, disse: (...)


Atenção!
A seqüência da história pode fazer com que muitas coisas, em que você acreditava quando criança, escoem pelo ralo. Se você é uma pessoa que acredita nos valores que absorveu quando criança e que as fantasias foram enormemente responsáveis por seu crescimento interno, sugiro que não prossiga. Se prosseguir, isento-me de quaisquer responsabilidades.


(...) Rúbia olhou despreocupada, mas ao ver aquilo, deu um pequeno pulo, soltou um grito surdo, largou o ovo e, com os olhos arregalados, disse:
- M-meu Deus! É o Coelhinho da Páscoa!
- Coelhinho!!! – espantou-se ele.
Neste momento, o coelho inclinou o corpo em direção aos dois e soltou um ameaçador e altíssimo rugido com bafo de chocolate.
- Aaaaahhh!!! – gritou Mondrongo.
- Aaaaaaaahhhhh!!!!! – respondeu Rúbia em um tom bem mais estridente.
Começaram a correr desesperadamente para fora daquele lugar e podiam ouvir e sentir aquele coelho gigantesco atrás deles. Rúbia ia à frente gritando e Mondrongo logo atrás pedindo para que ela corresse mais rápida. A cada pulo do Coelho, o chão tremia e quase desequilibrava os dois. Sentiam medo, mas ao mesmo tempo passava por suas cabeças um pensamento de que o Coelhinho da Páscoa não podia lhes fazer mal. Podia sim, pois já eram quase adultos. Várias músicas de Páscoa passaram por seus ouvidos até que avistaram a saída. Ao saírem, quase caindo, olharam para trás e não puderam acreditar no que estavam vendo. Um coelhinho de uns 40 centímetros de comprimento olhando para eles. Mondrongo pensou em avançar para cima dele, mas resolveu respeitar, afinal de contas nunca passou uma Páscoa sem ovo. Rúbia achou que aquele lugar talvez pudesse gerar algum tipo de ilusão, mas não quis entrar novamente para conferir. Resolveram conhecer o resto da gruta.

***


Pelo caminho que seguiram puderam ver uma série de lindas e enormes estalagmites e estalactites, embora nenhum dos dois soubesse dizer qual era qual. Se as estalactites se formavam de baixo para cima e as estalagmites se formavam de cima para baixo, ou se as estalagmites se formavam de baixo para cima e as estalactites se formavam de cima para baixo, ou vice-versa, ou ao contrário, ou os dois, ou nenhum dos dois. Não sabiam e ficavam confusos ao tentar lembrar.
Vez ou outra, encontravam uns amigos de Mondrongo, mas resolveram não contar sobre o Coelhinho, por achar que poderiam ter tido uma ilusão, ou pela própria tiração de sarro que talvez sofreriam. Talvez alguém dissesse ter encontrado o Papai Noel e isso seria um insulto, pois todos sabemos que o mesmo mora no Pólo Norte, certo? Só não sabíamos que o Coelhinho da Páscoa morava na Gruta de Santelmo, em plena Mata Atlântica, Brasil. Seria mais adequado morar na Ilha de Páscoa. Talvez a temperatura de lá não seja boa para chocar ovos de chocolate. Resolveram mudar de assunto e continuaram caminhando em busca de um lugar mais calmo.
De repente, encontraram um local de espaço enorme. Havia um pequeno lago de águas cristalinas no centro. Podiam ver, pois havia uma fresta no teto daquele local que permitia a entrada de sublimes raios do Sol. Era realmente lindo! Sentiram a temperatura da água e acharam propícia a um mergulho. Mondrongo ficou de bermuda e Rúbia colocou um biquíni vermelho que combinava com seus cabelos. “Como ela é gostosa!”, pensou Mondrongo. Mergulharam, nadaram e se divertiram até que resolveram se beijar. Seus beijos eram longos e gostosos, então Rúbia disse:
- Drôzinho, quer explorar minha gruta?
E ele respondeu:
- A lanterna já está pronta!
Saíram da água. Rúbia tirou seu biquíni, enquanto Mondrongo tirava sua bermuda e cueca. Ela deitou-se sobre uma pedra e repousou a cabeça sobre uma das mochilas. Ele abriu sua mochila para pegar seu estojo de primeiros socorros, onde guardava camisinhas. Pegou uma, abriu a embalagem e jogou-a (a embalagem) dentro de sua mochila para não jogar no chão e poder causar um dano ecológico, pois uma consciência que tinha era a de preservação ambiental.
Rúbia pediu para colocar a camisinha e a colocou em Mondrongo com a boca. O que o deixou maluco. Começou a beijá-la no pescoço, descendo para seus seios. Neste momento, começou a rir. Rúbia indignada, perguntou:
- O que foi? Do que está rindo?
- Nada! Nada! Eu lembrei de uma piada! – ele respondeu, já parando de rir.
- Então conta. – ela pediu.
- Outra hora eu conto, né Rúbia! – respondeu indignado.
- Ah, não! Conta agora! – implorou ela, já sentando para ouvir.
- Ai meu saco, viu! – resmungou.
- Ah! Não quer contar, não conta... – e já foi buscando suas roupas para se vestir.
- Não, não! Calma! Eu conto! – e continuou – Tinha um cara que estava em um ônibus e viu uma moça de seios lindos, sentada em um dos bancos. Não podia parar de olhar e, quando a moça fez sinal para descer e desceu, ele foi atrás. Já na rua, chamou-a e elogiou seus lindos seios. Perguntou se poderia dar uma mordida neles por R$ 100,00. Ela disse que ele estava maluco. Ele não se conteve e ofereceu R$ 500,00 pelas mordidas. Ela o recriminou e ameaçou chamar a polícia. Ele não podia perder a oportunidade e ofereceu R$ 1.000,00. Ela pensou um pouco e topou. Foram procurar um lugar escondido e, chegando a tal lugar, ela abriu a blusa. O homem pode ver aqueles lindos e enormes seios de fora e ficou louco. Começou a apalpá-los, acariciá-los, boliná-los, apertá-los. Então começou a beijá-los, demoradamente, e a esfregá-los no rosto. Então a mulher se encheu e perguntou se ele não iria morder nunca. E ele respondeu: “Ah, não! Para morder tá muito caro!”. É isso!
Rúbia caiu na gargalhada e falou que iria cobrar de Mondrongo também, mas ele teria de pagar. Mas como o fogo de Rúbia era ruim de apagar, ela pediu que ele continuasse. Ele voltou a beijar seus seios e, pela primeira vez, percebeu que Rúbia tinha um dos seios mais firme que o outro. Então perguntou qual era a razão.
- Outra hora eu te conto. – respondeu ela.
- Ah, não! Agora fiquei curioso. – replicou ele.
- Eu tinha tanta vergonha que você percebesse. Não quero contar.
- Mas por quê? Conta, vai! – insistiu.
- Tá bom! Tá bom! Há mais ou menos um ano atrás, eu precisei fazer uma mamografia. Eles utilizam um equipamento que pressiona o seio para ser fotografado por dentro. A máquina vai pressionando eletronicamente de cima para baixo. – Rúbia fazia gestos com as mãos na horizontal como se estivesse achatando algo – No momento de fazer a máquina parar de pressionar, a doutora apertou o botão para que a mesma parasse, mas tal botão não funcionou e, sem tempo de eu ter qualquer reação, a máquina esmagou meu seio esquerdo. Nooossa! Como aquilo doeu! Quase desmaiei! Fui levada às pressas para a cirurgia, gritando de dor. – Rúbia fazia várias expressões de agonia (e Mondrongo também) – O cirurgião fez uma reconstituição das glândulas mamárias e precisou implantar uma prótese de silicone para devolver o tamanho e, após isso, fez uma plástica para que não houvesse nenhuma diferença entre um seio e outro. Tudo por conta do hospital. Foi isso! – concluiu.
- Nossa! E você nem me contou disso! – chateou-se Mondrongo.
- Ai amor! Eu ainda não me acostumei com isso! Mas... você acha que dá para perceber? – Rúbia indagou acariciando seus seios e olhando-os.
- Claro que não! Seus seios são os mais lindos que já vi! – elogiou.
Rúbia deu um sorriso, mas logo sua expressão mudou e ela o questionou:
- E de quem mais você viu, hein? Seu sem-vergonha! Andou transando com mais alguém? Hein? Hein? Responde logo! Vamos! Como é? Responde! Anh? Anh?
- Calma, Ru! Eu não vi os seios de mais ninguém! É só uma força de expressão! A gente vê isso em revistas, na televisão, sei lá! – defendeu-se.
- Ai que conversa mole! Eu não acredito! – retrucou e continuou – Chega! Vamos sair daqui! Não quero mais saber de nada por hora! Perdi o pique!
Mondrongo sentiu a camisinha ficar grande e sobrando em volta de seu entusiasmo que foi diminuindo gradualmente. Ficou olhando atônito para Rúbia recolhendo suas roupas e se vestindo. Resolveu fazer o mesmo.
Quando Rúbia foi recolher a mochila sobre a qual havia repousado sua cabeça, percebeu não ser a sua e ficou sem fala olhando para a mesma. Mondrongo percebeu que ela estava parada e perguntou:
- Que foi? Está mais calma?

***


Rúbia não respondeu. Apenas apontou para a mochila que estava no chão. Sua outra mão cobria a boca. Mondrongo perguntou:
- O que foi?
- E-essa mochila... n-não é minha... eu-eu deitei minha cabeça nela, mas...
- Então de quem é? – perguntou inconformado.
- Sei lá! O que ela está fazendo aqui? – e, de repente, percorrendo os olhos pelo local – Ai meu Deus! Aaah! Meu Deus! O que é aquilo? Bruno! O que é aquilo?
Rúbia estava apontando dois corpos caídos próximo dali. Um estava sem um dos braços e sem uma das pernas, um olho pendendo de sua órbita pendurado em seu rosto. O outro estava partido ao meio na altura da cintura e com a mandíbula caída e sangrando. Mondrongo também viu e ficou sem fala. Quando conseguiu falar, disse:
- Pelas barbas de Santelmo! São o Cabelo e o Porpeta!
- Quem? Pelo amor de Deus? – questionou Rúbia.
- É... são da nossa turma! Meu Deus! É... o André e o Kléber!
- E agora? O que aconteceu a eles? – perguntou assustada sem querer saber a resposta.
- Vamos embora daqui logo, Rúbia! Pegue as coisas, rápido!
Colocaram suas mochilas nas costas e apanharam as mochilas dos dois rapazes mortos também. Olhando à volta mais um pouco puderam perceber o quanto horrível era aquele lugar que antes parecia paradisíaco. Viram enormes teias de aranhas e, reparando melhor, conseguiram avistar algumas outras pilhas de ossos.
Começaram a correr em busca da saída. Enquanto corriam, podiam sentir que algo tentava os empurrar de volta para trás. Vez ou outra sentiam enormes calafrios e sentiam, também, que algo invisível atravessava seus corpos no sentido contrário. O que quase fez Rúbia parar de correr de desespero. Sentiram-se aliviados quando puderam avistar luz e pararem de sentir aquelas coisas invisíveis. Ao saírem, todos já estavam lá fora sentados, rindo, bebendo, conversando. Mondrongo disse:
- Galera! Vamos embora!
Então o responsável pela caravana disse:
- Vamos! Claro! Assim que aqueles dois idiotas do Porpeta e do Cabelo chegarem!
Ouviram-se, ainda, outros comentários como: “Aqueles dois sempre atrasando!”, “Tinha que ser eles!”, “Devem estar zoando!”, “Devem estar aprontando alguma!”, entre outros.
Eis que Rúbia, furiosa, interrompe com um grito:
- Vamos todos calar a boca!? Eu creio que eles não voltam mais! Nunca mais!
- Peraí! Calma! O que você quer dizer com isso? – perguntou Cláudio, o monitor da caravana.
Ela jogou a mochila que carregava nas mãos no chão, na frente de todos, e Mondrongo fez o mesmo com a sua. Então Rúbia disse:
- Eles foram mutilados lá dentro!
E Cláudio perguntou:
- Co-como assim? Isso é algum tipo de brincadeira? Temos que ir buscá-los!
E, já fazendo movimento para entrar novamente na gruta, foi interrompido por Mondrongo que o segurou pelo braço e disse:
- Eu acho melhor não! Ela está dizendo a verdade! Foi horrível! Não sabemos dizer o que foi que fez aquilo, mas não é seguro! Tinha outros corpos lá, somente esqueletos! É melhor irmos embora! E foi o que fizeram. Alguns choravam, outros bebiam os restos de batidas, alguns encontravam clima para se beijarem. Mas ninguém mais fazia guerra de fronhas ou cantava músicas da Legião ou do Capital, mesmo porque ninguém sabia cantá-las até o final. Só queriam que aquele dia acabasse logo.

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