VI - Um festival...


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Esta história é uma homenagem às grandes bandas citadas nela. É claro que muitos dos fatos citados não poderiam ter ocorrido, principalmente, pelo fato de não estarem, cronologicamente, situados na mesma época, mas... espero que se divirtam! Rock n’ Roll!!!
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Rúbia no Show de Rock
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13 de julho. Dia Mundial do Rock. Acontecia, em São Paulo, um festival organizado por um site especializado em rock, uma rádio rock e um jornal de grande circulação. O festival foi batizado de Metal Storm e era uma reunião poderosa de alguns nomes do rock em suas várias formas de expressão. Dez bandas. Três nacionais e sete internacionais reunidas no Estádio do Morumbi. E, Rúbia, como boa roqueira, ou boa metaleira, ou boa headbanger, ou como queiram denominar, tinha que estar lá presente.
Rúbia combinou de encontrar uns colegas em frente ao Shopping Butantã. Ao chegar, todos já estavam lá. O Dave – para quem a Rúbia “pagava um pau”, a Dominique – sua melhor amiga, o Alecs – um colega deles, e um tal de Hugo – que era colega do Dave, mas nem Rúbia nem Dominique nem Alecs conheciam.
- Demorou, hein! – falou Dave.
- Puxa vida! Pode me falar ‘oi’ antes? – choramingou Rúbia.
- Oi, Bia! Tudo bem? Tô brincando. – disse Dave, beijando-a no rosto e apresentando seu amigo Hugo – Esse é o Hugo, um amigo meu da faculdade.
Rúbia odiava ser chamada de Bia, mas como foi o Dave, ela aceitara. Cumprimentou o Hugo e, depois o Alecs e foi dar um forte abraço em Dominique, que a cumprimentou com um selinho e perguntou:
- Cadê o Mondrongo?
- Ele não gosta de Rock e está sem falar comigo desde que eu comprei o ingresso. – respondeu Rúbia, com cara de lamentação – Mas hoje não é dia para tristeza, depois eu resolvo isso, né não?
- Então, vamos? – perguntou Dave.
Todos assentiram. E foram andando pela avenida que os levaria até o Estádio do Morumbi. Dave era mais ou menos como um líder da turma e era isso que Rúbia admirava nele, além de seus olhos, é claro. E de seu tórax, de suas pernas e de... é... deixa pra lá.
Durante todo o percurso da avenida, foram conversando e rindo muito com as piadas e palhaçadas de Alecs. Rúbia e Dominique colocavam as fofocas em dia. Pelo caminho viam vários tipos de pessoas indo ao show. Punks, metaleiros, grunges, largados e até uns tipos que pareciam rappers. Cabelos dos mais coloridos, moicanos, tatuagens, piercings, lentes de contato, pulseiras, jaquetas, botas, couro, metal, era um verdadeiro festival.
Quando chegaram à porta do Estádio, a coisa ficou um pouco mais variada e, quando entraram, um pouco mais ainda. O público é sempre um espetáculo à parte que já vale o valor do ingresso. Comprado com carteirinha de estudante, então, melhora um pouco.
O palco era enorme, decorado com metais que pareciam estar retorcidos. Toneladas de som. Dois telões enormes nas laterais do palco. Milhares de pessoas lá dentro. Estava tocando “Back In Black” do AC/DC. Um calafrio tomou conta do corpo de Rúbia. Aquilo era um sonho lindo demais. Tinha medo de acordar.
Quando Rúbia se lembrou de que estava no Morumbi – como boa São-paulina que é – quis subir no emblema do clube que fica na lateral do Estádio e arrastou todos para lá, sem querer saber a opinião de ninguém. Achou o emblema lindo. Estava achando tudo lindo. O Estádio, a decoração, o Festival, as bandas, o público, o Dave.
Sentaram-se, todos, sobre o emblema do São Paulo Futebol Clube. Eram, mais ou menos, dez horas da manhã e a primeira banda entraria ao meio-dia, se não atrasasse. Dave e Rúbia são os que mais se interessam pelas histórias das bandas, nomes de músicas, discografia e etc. e são os que mais falam sobre isso, mas quem começou a conversa foi Dominique:
- Vocês viram o novo baixista do Metallica?
- Ele era do Suicidal Tendencies. – responde Dave.
- E do Infectious Grooves também. – acrescenta Rúbia.
- Ele não tocava com o Ozzy? – questiona Alecs.
- Ele tocou no último disco do Ozzy – esclarece Dave – Ele é bom pra caramba!
- Eu achei ele esquisito. Preferia o Jason. – manifesta-se Dominique – Era mais bonitinho.
- Dããã, Miquê! Ah não, né? – debocha Rúbia – Mas o Metallica não é mais o mesmo, realmente. Espero que voltem a serem bons como eram antes
Enquanto estavam conversando, puderam ver um rapaz correndo feito um louco, dos fundos do Estádio em direção à multidão que estava mais próxima ao palco, com dois policiais militares em sua cola. De repente, o rapaz entrou no meio da multidão e sumiu. Os dois PMs ficaram só olhando e não puderam fazer nada.
O calor era muito forte. Algumas vezes, antes de os shows começarem e durante seus intervalos, os bombeiros lançavam jatos de água para o alto, para refrescar a multidão, com enormes mangueiras. Isso já era um show à parte.
Muitas conversas e testes de som depois, é chegada a hora de a primeira banda entrar em cena. Estava somente meia hora atrasada. Um locutor da rádio que estava entre as promotoras do evento começou com aquela baboseira de ‘como vocês estão?’, etc. e anunciou a primeira banda do dia. Então ele gritou:
- Spank Bad Thing!!!

***


Era uma banda pouco conhecida ainda, com pouco tempo de formação, que havia ganhado um concurso promovido pelo site – um dos promotores do evento – e ganhado a oportunidade de abrir o Festival. Faziam um som sem rótulos, cada música tinha um estilo diferente. Alguns rotulavam como new metal, outros como crossover, enfim...
Quando eles começaram a entrar, Rúbia soltou um grito, pois era a que melhor conhecia a banda e a adorava. Conhecia alguns de seus integrantes pessoalmente. Agitou feito uma louca, pulou, gritou mais um pouco e foi curtindo. Ficaram assistindo ao show próximos ao emblema do Clube.
Rúbia conhecia todas as músicas que eles tocaram – “Seven”, “A Call To Arms”, “Seqüela”, enfim todas. Já seus colegas só reconheceram as versões que eles fizeram para “Black” do Pearl Jam, “Fade To Black” e “Seek And Destroy” do Metallica.
O show terminou um pouco rápido demais para Rúbia.
- Que banda é essa, Bia? – perguntou Dave.
- Vocês viram que louco? Que lindinhos que eles são? Viu os solos do guitarrista? Viu como o vocalista é doido? – entusiasmou-se Rúbia.
- É, vimos! São legais. O som é muito louco. Gostei! – respondeu Dave.
- São lindinhos, mesmo! – disse Dominique.
Intervalo para a entrada da próxima banda. Em todo intervalo tocavam clássicos do rock de bandas que não estavam participando do Festival. Resolveram ir procurar alguma coisa para comer. Encontraram algumas barracas lotadas nas laterais do Estádio, mas decidiram enfrentar. Dave, como sempre, tomou a frente e se prontificou a pegar para todos:
- Vamos fazer o seguinte: vocês escolhem o que querem e eu e o Hugo vamos buscar, para não ficar um tumulto de gente lá. – disse.
Rúbia achou essa atitude o máximo e disse:
- Eu vou querer uma mini-pizza e um suco de morango.
- Eu quero um misto-quente e um guaraná. – escolheu Dominique.
- Hunn! Eu acho que vou querer um lanche de filé de frango e uma soda. – decidiu-se Alecs.
Dave, então, recolheu o dinheiro de todos e disse para Rúbia:
- Bia, pode deixar que o seu, eu pago. – e completou para o Alecs – Você cuida das meninas direito, hein, ô peão.
- Pode deixar! – garantiu Alecs.
Rúbia estava meio abobada e Dominique estava olhando feio para ela, pois lembrava do Mondrongo. Gostava dele como pessoa e não queria que Rúbia fizesse algo que pudesse magoá-lo.
Dave e Hugo voltaram com os comes e bebes. Resolveram sentar-se para comer até o próximo show começar. Viam, vez ou outra, alguns grupos disputando quem fazia a torre humana mais alta. O pessoal subia uns nos ombros dos outros até que não agüentavam mais e caíam. Rúbia e Dominique achavam tudo isso muito divertido.
Eles ainda estavam comendo quando veio o locutor da rádio novamente jogar alguns brindes para a galera, interromper “Smells Like Teen Spirit” do Nirvana, e anunciar a próxima banda. Perguntou se todos estavam preparados para o ‘forrócore’ e anunciou:
- Raimundos!!!
Os Raimundos ainda estavam com Rodolfo nos vocais e já subiram ao palco quebrando tudo com “Tora Tora”. Tocaram músicas de toda a carreira, desde “Puteiro Em João Pessoa” até “20 E Poucos Anos” do Fábio Jr. Mas o grande momento foi quando convidaram o Marky Ramone (baterista dos Ramones) para subir ao palco e tocar com eles “Pequena Raimunda”. Tanto a galera quanto os Raimundos foram ao delírio.
Mais um intervalo. Rúbia queria ir ao banheiro, pois ficou cheia com o suco. Chamou Dominique para ir com ela. Havia cabines nos fundos e nas laterais do Estádio. Foram até os fundos para andar um pouco e ver alguns meninos bonitos. Então Dominique falou para Rúbia:
- Você tá dando mó brecha pro Dave, né, senhorita?
- Eeeu! Qué isso, Miquê! – espantou-se Rúbia!
- Tá pensando que eu não tô vendo, é? – indignou-se Dominique.
- Ah! Não rola nada! Mas que ele é um gato, é, né? – Rúbia responde.
- É bom que não role nada, dona Rúbia, porque o Mondrongo iria ficar muito chateado –Dominique recrimina – e pra piorar o Dave te chama de Bia e você nem liga.
- Primeiro, o Mondrongo não tem que saber de nada! – irrita-se Rúbia – Segundo, eu não gosto que ele me chame assim, mas vou falar para ele? Fica chato, né?
- Sei, sei! – suspira Dominique – Vamos ao banheiro, vai!
Dominique entra em uma cabine e Rúbia em outra. Rúbia olha aquilo desesperada. Sabe que vai ter que fazer malabarismo para fazer xixi. Ela pega um pedaço de papel higiênico em sua bolsa, abaixa as calças, sobe no vaso e fica de cócoras. Apóia suas mãos nas laterais da cabine. Neste momento, sente que encostou sua mão esquerda em algo úmido e macio, mas prefere não olhar até terminar seu xixi, pois está muito apertada. Ao terminar, olha para seu lado esquerdo para confirmar sobre o que havia colocado sua mão, percebe se tratar de um absorvente usado e colado na parede da cabine com o sangue voltado para fora e grita:
- Aaaai, que nojo!!! Filha da puta!!!
Sua mão estava encharcada e um filete de sangue escorreu até seu cotovelo. Dominique que estava na cabine ao lado pergunta o que estava acontecendo. Rúbia pede para ela esperar que vai precisar de ajuda. Não sabe se limpa as mãos ou lá embaixo com o pedaço de papel. Resolve se limpar primeiro lá embaixo. Depois passa um pouco de papel, que estava úmido com urina, do cotovelo até a sua mão, só para o sangue não escorrer mais. Sobe suas calças com a maior dificuldade, pois está somente com uma mão. Enfim, sai da cabine.
Dominique vê sua mão e pergunta se Rúbia havia se machucado. Rúbia conta o que aconteceu e Dominique precisa voltar à cabine para vomitar. Rúbia olha para o céu com cara de desânimo e suspira. Quando Dominique volta, Rúbia diz:
- Anda logo, por favor! Pega uma garrafinha de água que está na minha mochila para eu lavar isso.
Dominique assim o faz e Rúbia pega um pouco de sabonete líquido que tem em uma torneirinha dentro da cabine. Pede para Dominique jogar um pouco de água em seu braço, esfrega com o sabonete e depois, pede para que jogue o resto da água. Pronto, está limpa.
Resolveram voltar para perto dos meninos, pois Rúbia sabia em qual ordem as bandas tocariam e, tinha medo dos punks agitando com a próxima. Enquanto isso, tocava “Polícia” dos Titãs.
Realmente, não se sabe de onde surgiram tantos punks juntos naquele momento em que o locutor volta ao palco para anunciar a próxima atração. De qualquer forma, sabendo ou não se os punks surgem de algum porão, a banda é anunciada em alto e bom som:
- Ramones!!!

***


Joey Ramone ainda estava vivo. Foi um festival de “one, two, three, four” e uma música atrás da outra. Metade do estádio havia sido dominada por punks, mas os mesmos não tinham aparência hostil ou agressiva. O show transcorreu com bastante calma. Toda a galera foi ao delírio quando os Ramones tocaram “Blitzkrieg Bop” e “Pinhead”, pois puderam gritar com toda energia: ‘Hey, ho! Let´s go! Hey, ho! Let´s go!’ e ‘Gabba Gabba Hey!’. Mas o grande momento mesmo foi quando tocaram “Pet Semetary”.
Chegou a hora de o show terminar. Mais um intervalo. Os punks começaram a dispersar. Suados. Alguns carecas começaram a tomar conta do local. Rúbia tinha mais medo ainda deles. Percebeu que estava tocando “Stairway To Heaven” do Led Zeppelin. Olhou para a entrada do Estádio e viu que ainda tinha gente entrando e alguns já saindo. Não se conformava se caberiam todas essas pessoas lá dentro e se perguntava porque tinha pessoas que pagavam pelo ingresso e iam embora antes de o show terminar.
Agora, as torres humanas utilizavam as placas de madeira que cobriam o gramado. Uns seguravam e outros subiam e ficavam pulando em cima. Mas a segurança local deu um basta rapidinho e Rúbia achou legal:
- Essas placas servem para proteger o gramado e esses babacas pegam e pisam no gramado do meu Tricolor!
- Larga de ser implicante, Bia. – disse Dave.
Rúbia mostrou a língua e Dave completou:
- Olha que eu pego ela, hein!
Dominique estava rindo feito uma louca com as gracinhas do Alecs. Hugo não falava quase nada. Rúbia e Dave conversavam sobre outras bandas. Então, eis que surge, novamente, o locutor da rádio. Perguntou se a galera estava preparada para mais peso e anunciou a próxima banda:
- Pantera!!!
Agora foi a vez dos carecas tomarem conta do pedaço. Agitavam muito. Rúbia a sua turma tiveram que ir um pouco mais para trás, pois, senão, seriam atingidos pela agitação do pessoal. Músicas como “Mouth For War” e “Cowboys From Hell” fizeram algumas rodas de brigas se formarem. Foi o show mais violento do dia.
Mas, no palco, a coisa foi muito diferente. Phil Anselmo, o vocalista, pedia paz e que o pessoal se divertisse, mas mais da metade não entendia, pois o vocalista falava em inglês. Ameaçou terminar o show se a galera não parasse de arrumar confusão, mas percebeu que ninguém entendia e resolveu continuar até o fim. Ainda bem!
Mais um intervalo. Já era início de noite. O tempo começou a esfriar. As luzes do Estádio começaram a acender. Entre os clássicos do rock que tocavam nos intervalos, estava “Smoke On The Water” do Deep Purple.
Resolveram passear um pouco pelo Estádio e sentaram-se do lado oposto a onde estavam sentados antes. Sem perceber, sentaram-se perto de uma rodinha de jovens que começaram a acender cigarros. Pelo cheiro, Dave percebeu que era maconha e comentou com todos. Rúbia perguntou:
- Ah! Então esse é o cheiro de maconha?
- Horrível, né? – disse Alecs.
- Ah! Até que não achei ruim, não! – discordou Rúbia e ficou fungando o cheiro.
Dominique disse:
- Pára com isso, sua xarope!
Rúbia começou a rir desesperadamente. Não achava graça de nada, mas não conseguia parar de rir. Então, Dave disse:
- Ih! Tá bem lôca!
De repente, Rúbia pára de rir e faz cara de assustada, com a boca aberta. Estava vendo um carinha negro de gorro e tanga vermelhos, com um cachimbo na boca e uma perna só. Quis dizer que estava vendo o Saci-Pererê, mas achou ser efeito da maconha e somente deu mais risada.
As luzes do Estádio se apagaram. A música parou de tocar. Os telões foram ligados. Rúbia só parou de rir quando o locutor subiu ao palco mais uma vez e anunciou a primeira atração a tocar à noite:
- System Of A Down!!!
Ao primeiro acorde de “Prison Song”, houve um flash de canhões de luz do palco e a galera foi à loucura. Rúbia ainda estava tonta, mas também gritou. Era a hora do New Metal! “Chop Suey!” quase fez o Estádio virar do avesso. Mas Dominique e Rúbia gostaram mesmo de “Aerials”. Dave, Hugo e Alecs não se conformavam com a velocidade com que Serj Tankian cantava.
Os telões estavam com imagem muito boa, mas o show chegou ao fim. Outro intervalo. As luzes começaram a acender. Música mecânica novamente. Dessa vez tocou “Enter Sandman” do Metallica, entre outras.
Procuraram outro lugar para sentarem, longe dos maconheiros antes que a Rúbia começasse a dar trabalho. Dave e Hugo foram comprar cervejas e perguntou se mais alguém queria.
- Você vai querer, Dominique? – perguntou Alecs.
- Não, não! Obrigada! – respondeu.
- Eu também não quero, então. – disse Alecs para Dave.
- Ai que lindinho! – ironizou Dave e perguntou a Rúbia – E você, Bia, vai querer uma?
- Não, obrigada! Eu não bebo!
- Ah! Não acredito! Roqueira que não bebe? – ironizou, mais uma vez, Dave.
Rúbia odiava essa história de que Rock tem ligação direta com álcool, drogas, cigarro, sexo, satanismo, tatuagens, piercings, etc. e disse, brava:
- Não bebo, não fumo e não uso drogas! Por quê? Tem algum problema nisso?
- Ih! Podia dormir sem essa, maluco! – disse Hugo puxando Dave – Vamos nessa antes que comece o outro show.
Ao voltarem, as luzes começaram a apagar e o locutor voltou perguntando se estavam cansados e tal, e anunciou a próxima banda:
- Faith No More!!!

***


O show já começou arrebentando as portas com “Digging The Grave”. Depois de umas três músicas, Mike Patton disse ‘Boa noite, São Paulo!’ e cantou “Evidence” em português. Na seqüência, tocaram “Edge Of The World”, “Easy” e “I Started A Joke”; o que foi um prato cheio para o romantismo, fazendo com que Alecs parasse com as palhaçadas e roubasse vários beijos de Dominique. Terminaram o show com “Epic”.
Mas tudo que é bom, dura pouco. O show acabou, as luzes do Estádio começaram a acender, mais clássicos nos alto-falantes – entre eles “Blind” do Korn. A turma de Rúbia resolveu dar mais uma passeada pelo local. encontraram uma barraca que vendia e colocava piercings e tinha mostruários de tatuagens. Havia cabines para colocar piercings e fazer tatuagens. Então, Dominique – de mãos dadas com Alecs – disse:
- Aí, Rúbia! Coloca um piercing!
- Você tá louca? – respondeu Rúbia – O Mondrongo já não está falando comigo. Se eu colocar um piercing ou fizer uma tatuagem, ele termina o namoro.
- Como coisa que você está muito preocupada com isso, né, queridinha? – retrucou Dominique.
- Qual é, hein, Miquê? – reclama Rúbia, já partindo em direção a Dominique.
- Ei, ei, ei, vamos parar com isso, as duas donzelas!? – aparta Dave.
Rúbia se acalma ao sentir Dave a segurando pelo ombro, e diz:
- Não vou deixar nada estragar esse dia maravilhoso, tá, Dominique?
Dominique se cala. Eles continuam andando, Dave pega a mão de Rúbia para andar, mas Rúbia puxa a mão de volta.
Os mais largados e alternativos começam a dispersar. As proximidades do palco começam a ser tomada por uma multidão de pessoas vestidas de preto dos pés à cabeça. Percebe-se que está chegando a vez do Metal.
O locutor da rádio, que já virou locutor do evento, volta ao palco para atirar mais alguns brindes. Agora são CDs das bandas participantes. E, em alto e em bom tom, anuncia que agora vai começar a porradaria e chama a próxima banda:
- Sepultura!!!
Max Cavalera ainda estava à frente da banda e já entrou gritando: ‘São Paulo! Vâmo detoná essa porra!!!’. Começou a pancadaria. Em certo momento, Max chamou ao palco uns amigos, como ele mesmo denominou – Mike Patton, do Faith No More; Jason Newsted, ex-Metallica; e o dj do Pavilhão Nove –, para tocarem “Lookaway”.
Dominique deu um berro:
- Aaaaaah! Rúbia! É o Jason!!!
- Tô vendo, sua louca! – respondeu, rindo, Rúbia.
Após essa música, Jason Newsted ficou até o final do show tocando com o Sepultura que, na seqüência soltou “Roots Bloody Roots”. Alguns malucos acenderam uma fogueira nos fundos do Estádio; não dava para saber o que eles queimavam, mas havia uma fumaça preta e consistente subindo e subindo. Foi tudo muito louco, mas mais um show chegou ao fim.
Dominique disse que estava com fome e todos perceberam que também estavam. Foram procurar barracas de lanches do lado oposto ao de onde tinham comido à tarde. Dave repetiu o ritual pegando o dinheiro e pedido de todos, chamando Hugo para ir com ele e informando Rúbia que pagaria o que ela quisesse.
- Eu quero um hambúrguer e uma soda. – adiantou-se Dominique.
- Eu vou querer um bauru e um suco de maçã. – resolveu Alecs.
Rúbia, então decidiu abusar:
- Eu quero um pastel de queijo, um espetinho de camarão e um suco de abacaxi.
- Caramba! Você vai comer tudo isso? – perguntou Dave, e completou – Como é que eu vou trazer isso? Vamos com a gente, Alecs!
- E quem vai cuidar delas? – perguntou Alecs.
- Sabe o que você pode fazer? – solucionou Rúbia – Traz o nosso antes e depois volta para comprar o seu.
- Rá! Rá! Rá! Gracinha! – sacaneou Dave.
- Vai logo antes que o próximo show comece. – definiu Rúbia – Aproveita que os metaleiros estão todos concentrados e não vão comer agora.
Dave fez cara de insatisfeito, mas concordou e foi comprar. Neste momento, estava tocando “Painkiller” do Judas Priest. Algum tempo depois, Dave volta com os lanches do Alecs e das meninas e retorna à barraca para comprar seu lanche e o do Hugo. Rúbia dividiu seu espetinho com Dominique. Hugo e Dave ainda não haviam terminado seus lanches quando as luzes começaram a apagar e o som foi cortado para que o locutor voltasse para fazer anúncio de mais porrada para a noite:
- Slayer!!!
O show começa com um som de disco (LP) girando ao contrário para dar início à música “Hell Awaits”. Segue-se uma fúria incontrolável. Dave Lombardo ainda está no comando das baquetas. Rúbia e Dominique riem muito de um carinha agitando com uma cabeleira crespa enorme e dura que não mexia. O show transcorreu em ritmo acelerado. O Estádio quase veio abaixo com músicas como “Angel Of Death” e “Seasons In The Abyss”.
Ao final do show, resolveram sentar para conversarem. Comentaram sobre como tudo foi muito bem organizado, sem nenhum atraso até agora, exceto no primeiro show. Todos os intervalos duraram trinta minutos. As trocas de palco foram rápidas. As bandas foram divididas, mais ou menos, por estilo musical. Os telões estavam com boa imagem. No momento em que comentavam sobre isso, começou a tocar “Sole Survivor” do Helloween.
Conversa vai, conversa vem, então passa um grupo de seis jovens, entre rapazes e garotas, que Hugo reconhece. Pede para os outros esperarem um pouco, levanta-se e vai conversar com eles. Rúbia e os outros ficaram sentados e começaram a conversar sobre seus cursos na faculdade que todos começaram esse ano. Cada um estudava em uma faculdade diferente. Rúbia cursava Publicidade; Dave e Hugo, Direito; Dominique, Letras; e Alecs, Engenharia Civil.
Após algum tempo, Hugo volta e diz ao Dave:
- Ô Dave! Eu vou agitar mais lá no meio da galera com uns camaradas meus que eu encontrei aqui e depois eu encontro vocês por aqui mesmo, perto da torre central de som, beleza?
- Tudo bem, mas vê se não apronta e se cuida. E volta logo que acabar o próximo show. Falou? – respondeu Dave.
Hugo assente com a cabeça e faz sinal positivo com o polegar. Rúbia diz não gostar da idéia. Diz que depois se ele se perder vai ser um ‘Deus-nos-acuda’. Dave diz para ela relaxar, mas Dominique e Alecs concordam com Rúbia; só que agora, o que se há de fazer? Ele já havia ido.
As luzes começam a apagar, a música pára, o locutor volta, joga algumas camisetas e encordoamentos de guitarra para a galera e, mais uma vez, anuncia uma das duas grandes bandas que iriam encerrar o Festival. É meia-noite e meia e ele grita:
-Iron Maiden!!!

***


Sobe ao palco a ‘Donzela de Ferro’, com três guitarras e Bruce Dickinson nos vocais. Faz um show mais longo que as bandas anteriores. O show é recheado de efeitos pirotécnicos, explosões e luzes. Bruce Dickinson é muito comunicativo e empolga a galera o tempo todo. Tocam músicas de toda a carreira. Os pontos mais altos são com “The Number Of The Beast”, “Aces High”, “The Trooper” e “Fear Of The Dark”. As três guitarras, ao vivo, produzem uma massa sonora de arrepiar. Rúbia e Dominique curtem, feito loucas, principalmente, quando tocam “Wasting Love”. No momento em que toca “Iron Maiden”, aparece uma Eddie gigante e fica tentando pegar os integrantes da banda e o guitarrista Janick Gers fica lutando contra ela.
Após duas horas que pareceram um minuto, o show termina. Ninguém parece cansado e ainda pede mais, mas o bis também já havia acabado. Rúbia comenta que nunca esquecerá o Bruce Dickinson gritando: ‘Scream for me São Paulo!’.
Dominique diz que está querendo ir ao banheiro e pede para que Alecs vá com ela. Dave e Rúbia resolvem ficar em frente à torre de controle de som que é cercada por grades.
Rúbia diz estar com frio. Dave tira sua jaqueta de couro do Kiss e a coloca sobre as costas dela. Ele senta-se, encostando as costas na grade que envolve a torre, abre as pernas e oferece que Rúbia sente-se em frente a ele. Ela aceita e se senta de costas para ele. Ele puxa a jaqueta para frente do corpo dela e a abraça. A jaqueta é grande e cobre Rúbia, que é pequena, do pescoço até o meio de suas coxas. Dave começa a beijar o pescoço de Rúbia.
Dominique, ao sair do banheiro, sugere que ela e Alecs poderiam tomar alguma coisa. Ele topa e vão até a barraca de bebidas. Dominique sugere um vinho e ele compra um copo para os dois. Alecs, como sempre faz gracinhas que quase fazem Dominique ter que voltar ao banheiro. Quando terminam de beber, ele procura um lixo para jogar o copo vazio e a surpreende com um beijo de cinema. Ela gosta e continua a beijá-lo. Ficam ali por um bom tempo.
Por baixo da jaqueta, Dave começa a passar a mão direita pela barriga de Rúbia. Ela fecha os olhos e deita a cabeça de lado. Ele começa a beijar sua orelha esquerda, procura o botão da calça cargo dela e, vagarosamente, o abre e abre, também, o zíper. Ela vira mais a cabeça e Dave começa a beijá-la na boca, enquanto sua mão já passeia por cima de sua calcinha.
Alecs e Dominique param de se beijar e se entreolham com um pouco de vergonha, por não se conhecerem muito bem. Mas está tudo bem. Alecs acha Dominique linda. Ele adora loiras. Dominique acha Alecs muito divertido e criativo. Ela adora rir. Resolvem voltar ao local onde estão Rúbia e Dave, pois o próximo show iria começar logo.
Dave começa a colocar a mão por dentro da calcinha de Rúbia. Ela arregala os olhos e trava a língua, mas vê que Dave está de olhos fechados e resolve relaxar e continuar beijando-o, então agarra as coxas dele. Ele a acaricia com bastante cuidado e habilidade, deixando-a maluca. Neste momento, Dominique e Alecs chegam, mas os dois nem percebem. Dominique vê aquilo, faz cara de brava, apesar de nem imaginar o que está acontecendo por baixo da jaqueta do Kiss de Dave, e vai em direção aos dois para separá-los, mas Alecs a detém e começa a beijá-la.
Neste momento, está tocando “Black Metal” do Venom, mas nem Dave, nem Rúbia, nem Dominique, nem Alecs escutam. As luzes começam a apagar, o locutor volta para anunciar a última grande atração da noite, mas nenhum deles escuta.
Dave sente que Rúbia está com o corpo tremendo um pouco. Ela crava suas unhas nas coxas dele, morde sua língua e franze a testa. Ela não agüenta mais.
Então, o locutor anuncia:
- Black Sabbath!!!
A multidão toda começa a gritar em louvor aos deuses do Metal. Rúbia aproveita para gritar de tesão e puxar a mão de Dave de dentro de sua calça. Ela fecha suas calças com as mãos ainda bobas e levanta-se rapidamente, mas perde um pouco o equilíbrio; devolve a jaqueta para Dave, pois está morrendo de calor.
Os quatro Cavaleiros do Apocalipse – Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward – sobem ao palco. Parece um sonho! Formação original! O clima sombrio promete que será uma noite inesquecível. A voz de Ozzy anuncia que o mal está presente.
Começaram com “War Pigs”, tocaram “Sabbath Bloody Sabbath”, “The Wizard”, “Iron Man”, “N.I.B.” e todos os outros clássicos. Durante a música “Black Sabbath”, todas as luzes ficaram, completamente, apagadas, dando um clima de terror. Tocaram ainda “Snowblind”, “Sweet Leaf”, “Eletric Funeral”. Foi um festival à parte.
Quando voltaram para o bis, encerraram o show com “Symptom Of The Universe”, “Children Of The Grave” e “Paranoid”.
Rúbia está estática, sem fala, achou tudo muito louco, sentia arrepios no corpo todo, sentia vontade de chorar de emoção. Disse que nunca esquecerá o Ozzy dizendo: ‘Let me see your fucking hands!’. As luzes se acendem, muita gente suada começa a ir embora. Eles também resolvem ir, mas... Rúbia pergunta:
- Onde está o seu colega, Dave?

***


- Ai meu Deus! O Hugo! Ele disse que ia voltar depois do show do Iron. – lembra Dave, com cara de desanimado.
- Pronto! Era só o que faltava! Agora nós quatro vamos ter que ficar chamando o Hugo! – Alecs faz uma de suas gracinhas.
Dominique ri igual uma boba e, quando se recompõe, diz:
- Ah! Larga ele aí! Ele não voltou porque não quis! Ele já é maior de idade, responsável e deve saber ir embora sozinho.
- Não é assim não, Dominique! – adverte Alecs – Nós precisamos encontrá-lo.
Rúbia concorda, mas diz:
- Tudo bem! Concordo, mas o que você sugere que nós façamos aqui no meio de, sei lá, cem mil pessoas?
- A gente poderia enfiar o dedo na garganta para ver se o Hugo chega. – responde Alecs.
Dominique senta no chão de tanto rir e diz que vai fazer xixi na calça. Rúbia também ri muito, mas diz que é sério. Dave, então toma a decisão:
- Eu vou procurá-lo e vocês me esperam aqui.
Rúbia fala:
- Ah, não! Mais um desaparecido, não! Vamos todos juntos, então!
Os outros concordam. Partem pelo Estádio, sem destino, enfrentando o trânsito contrário ao pessoal que busca a saída. Após uns quinze minutos andando, avistam em um canto próximo ao palco, do lado esquerdo do Estádio, um corpo de um rapaz deitado.
Ao chegarem mais perto, percebem que o rapaz está somente de cuecas, deitado sobre uma porção de sacos brancos e cheios. Caminham devagar, pois não querem acreditar que possa se tratar de Hugo. Mas Dave acelera o passo e percebe que se trata de seu amigo deitado sobre sacos de gelo.
Dave o chama, mas Hugo não responde. Dá tapinhas em seu rosto e nada. Olha em volta para ver se encontra suas roupas. Dominique começa a chorar no ombro de Alecs. Rúbia chega mais perto para verificar seu pulso e informa que está vivo.
- Me ajuda a levantá-lo, Alecs. – pede Dave.
Alecs prontamente atende. Rúbia vai ao encontro de Dominique para acolhê-la e quando o colocam sentado, Rúbia vê em suas costas dois cortes, na altura dos cotovelos. Cortes limpos, secos e com precisão cirúrgica.
- Ai, deita ele de novo! Ele está com dois cortes nas costas. – avisa Rúbia.
Alecs e Dave obedecem e resolvem procurar o posto médico. As meninas ficam vigiando para que ninguém mexa com ele ou para o caso de ele acordar. Logo os meninos voltam com dois médicos carregando uma maca e um estojo de primeiros socorros.
Os médicos examinam, verificam pressão, batimentos cardíacos e os cortes. Pergunta se são amigos dele e informa que os rins do garoto foram roubados e que ele deve ser hospitalizado imediatamente.
Dave pergunta como isso acontece e o médico explica:
- Existem quadrilhas que roubam rins para vender, no mercado negro, ao exterior ou para pessoas que estejam precisando de transplantes. Eles embebedam a pessoa ou colocam sedativos em suas bebidas. Com a pessoa adormecida, retiram seus rins por esses cortes em suas costas e a deixa deitada sobre o gelo para que o ferimento cicatrize, até que alguém as encontre. Mas, agora, temos que levá-lo. Por favor, avisem a família dele.
Dave assentiu. Resolveram ir embora, muito abalados ainda. Rúbia tentou confortar Dave, mas o mesmo queria chorar, pois sabia que não devia ter deixado Hugo sair de perto da turma para sair com aqueles caras, ladrões de rins.
Ao saírem do Estádio, foram caminhando até a Avenida Francisco Morato para pegarem os ônibus para suas casas. Já eram mais de seis horas da manhã. Despediram-se. Dave e Rúbia com um beijo no rosto. Alecs e Dominique com um longo beijo na boca. Dave e Alecs pegaram o mesmo ônibus, Dave ainda tinha que pegar outro na Estação da Luz, já Alecs pegaria o trem. Rúbia foi dormir na casa de Dominique, pois iria passar o domingo lá, levando bronca por ter ficado com o Dave e conversando sobre muitas outras coisas.
Hugo acordou no hospital e ficou internado durante seis meses até conseguir a doação de rins novos. Durante esses seis meses, ele ficou ligado a aparelhos que filtravam seu sangue o tempo todo.

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